25 de set. de 2012

PERDOAR... UMA TAREFA DIFÍCIL.







Seria ridículo se eu chegasse aqui agora e dissesse que sou uma pessoa super evoluída e que todos devem perdoar porque isso é divino (é realmente divino e todos devemos perdoar, mas a gente sabe que não é assim tão fácil). Sabemos os benefícios do perdão, nem tanto para quem o recebe, mas principalmente para quem dá. Mas como humanos que somos sabemos o quão difícil é você perdoar e esquecer aquilo que alguém fez, ou que você mesmo permitiu que fizessem.
Eu já perdoei muitas vezes. Mas vocês vão concordar comigo de que algumas coisas permanecem eternamente. Existe fórmula? Sinceramente não sei o que dizer a respeito, a não ser que se eu pudesse perdoar de forma sincera a todos que me fizeram mal até hoje, eu seria com certeza alguém mais leve. Todas as vezes em que eu perdoei de forma sincera, as coisas sumiram de minha mente de uma vez, e quando eu quero e tento lembrar, elas simplesmente não aparecem. Só que estas coisas aconteceram de forma extremamente natural, como num passe de mágica; e é aí que eu acho que entra o real sentido do perdão. Mas sempre existe uma situação ou outra, que ao ser lembrada, machuca tanto, que a única conclusão a que posso chegar é de que não houve o perdão real. Talvez nestes casos a gente precise que algo aconteça (que quem sabe a pessoa peça perdão de verdade) para que possamos perdoar. Agora, vai entender: por que algumas situações são tão duras que duram enternamente?
Uma amiga muito querida diz que perdão é questão de atitude. E eu concordo, porque uma vez que desejamos perdoar do fundo do coração, parece que o mundo se mobiliza em benefício daquele seu sentimento de vontade de perdoar. Afinal, é divino, não?
Agora, existem situações onde parece que nada coopera e a alguns meses atrás eu meio que descobri a solução, como uma vozinha interior beeem fraquinha, falando-me ao coração: "Afaste-se". Tentar perdoar à força, ou seja, tentando manter contato feliz e amigável com alguém que te magoou e continua a te magoar, só atrapalha. Nestas horas a distância é a melhor coisa e o tempo, aquele velho amigo que todo mundo diz que é o melhor remédio, realmente parece ajudar de verdade. Afastar-se significa não desistir de tentar perdoar, mas simplesmente deixar que o tempo apague o que passou e que a vida te traga coisas mais significativas no lugar. Para que você tenha a chance de perceber que mais importante do que aquilo que te magoou é o presente que você tem em mãos; pessoas amigas que você sente que te amam, sorrisos grátis, crianças lhe abraçando dizendo que você é cheirosa e o carinho mais que especial da família.
Talvez neste momento em que eu falo sobre perdão, há pessoas esperando por um pedido de perdão meu também. Afinal, a gente também machuca as pessoas, né? Que a gente possa parar uns minutinhos para pensar em quem está esperando nosso pedido de perdão. Para que a gente possa libertar algumas pessoas que só estão esperando isso para nos perdoar. E, quanto àqueles que não conseguem receber nosso perdão ainda? Pedir à Deus que os faça tão felizes, que a felicidade venha para nós também e a gente se esqueça de tudo o que aconteceu.
Perdoar rapidamente... É isso que Deus quer, e que poucas pessoas conseguem e que muitas precisam aprender, inclusive eu. Então, que Deus nos ajude a sermos mais humildes, para que tenhamos tempo de acertar o que está bagunçado, antes que algo surpreendente nos tire dessa vida e atrapalhe a nossa salvação.

Um abraço a todos!

A SANDÁLIA DE VELUDO E O SAPATO FERRADO


A estória ( com E) a seguir é muito interessante, eu a conheço desde que eu tinha doze anos, pois ela veio escrito no meu livro de português da época e eu nunca a esqueci, tanto que a procurei na internet para compartilhar com vcs.
Essa estória relata a realidade de muitas pessoas hoje em dia, cuja a soberba é tão grande em cima de outras, que acabam esquecendo que quando morremos vamos todos para o mesmo lugar; um grande buraco embaixo da terra.





           A SANDÁLIA VELUDO E O DE SAPATO FERRADO 


         Frederico José Bandeira

Era uma vez um Sapato Ferrado, era uma vez uma Sandália de Veludo, que o destino reuniu, certa manhã, na vitrina de uma sapataria.

Ele, de couro grosso, feio, forte, pesadão. Ela, pequenina, mimosa, delicada, com bordados de ouro, laçarotes de seda e fivelinha de prata.

A sina dele (via-se logo ao primeiro olhar) não podia ser outra senão andar em pés grosseiros, sobre lama e sobre pedra; ela (ao primeiro olhar se via) tinha sido feita para viver em palácios, sobre ricos tapetes, nos pezinhos delicados de uma mulher fidalga.
Se não se pareciam no corpo, muito menos na alma. A dêle era simp1es, lisa, complacente, bonachão. A dela, vaidosa, fútil, insaciável e complicada. Quando o Sapato Ferrado entrou na vitrina, já a Sandália de Veludo lá estava desde a véspera.

E quando ele entrou, houve entre os calçados um visível mal-estar. A Botinha de Cano Alto tocou escandalizada no Sapato Raso. A Botinha de Cromo soltou uma exclamação de surpresa.

A Bota de Montar, com toda a sua elegância de maneiras, não pôde esconder uma ruga de aborrecimento. O Sapatinho de criança fez uma careta. E até a Chinela de França mostrou-se espantada.

Mas quem fêz escândalo foi a Sandália.

Ao vê-lo entrar, deu um ui! de espanto como se tivesse visto um bicho e, chegando-se para junto do Sapato de Entrada Baixa, disse sem a menor precaução:
- Que sujeito mal-amanhado. Quererá, porventura, viver em nossa companhia?
Quando, mais tarde, a sapataria abriu as portas e o povo começou a parar diante da vitrina, cada calçado cuidou de colocar-se em posição de ser visto da rua.

Ele, o Sapato Ferrado, deixou o cantinho a que estava recolhido e veio para a frente.
- Chegue-se para lá! Gritou-lhe irritadamente a Sandália de Veludo. Faça o favor de não ficar perto de mim.
- Mas eu preciso mostrar-me. Para isso é que me puseram na vitrina.
- Sim, mas para lá, muito para lá! O mais possível! Veja bem a distância que nos separa.
Na rua um grupo de moças que vinha passando parou.

- Que mimo de Sandália!
- Que lindo Sapato de Entrada Baixa!
- Que fina Bota de Montar!
- Oh! no meio de tanto calçado rico um Sapato Ferrado tão feio! exclamou uma das moças.

O Sapatinho de Criança encheu o rosto com um riso inconveniente. A Botinha de Cromo virou de banda para rir. O Sapato Raso imitou-a.
- Não acho graça nenhuma, disse a Sandália de Veludo. O que sinto é vergonha. Vergonha de viver nesta vitrina em tão má companhia.
À tarde, o Sapato Ferrado desapareceu da vitrina. Um homem do campo comprara-o.
Passou-se.
Um dia uma carroça de lixo atirou o Sapato Ferrado para cima de um monturo. Minutos depois ouviu ele uma voz dizer-lhe baixinha:
- Amigo, acabo de reconhecê-lo.

Era uma velha Sandália descorada e gasta. O Sapato Ferrado ficou silencioso, sem saber quem lhe falava.
- Não tenho essa honra, senhora.
- Não se lembra de que estivemos juntos na vitrina de uma sapataria?
- Oh! é a Sandália de Veludo!
- Eu, sim! Estareita tão feia e tão velha que não lhe pareço a mesma Seda? - E os bordados d'ouro? E a fivelinha de prata?
- O tempo levou. A velhice destruiu. Amigo, conte-me, conte-me lá a sua história! Foi feliz?
- Fui. Tanto quanto pode ser feliz um Sapato Ferrado. O homem que me comprou levou-me para uma fazenda, meteu-me nos pés e andou comigo ao sol, à chuva, sobre pedras, sobre lama. Quando não prestei para mais nada, atirou-me ao lixo.
- Que horror! exclamou a Sandália. E amigo não se acanha, de contar uma vida tão inferior? Sobre pedras, sobre lama ... Fui muito mais feliz.
- Pudera! Teve a sorte das Sandálias de Veludo.
- A mulher que me comprou era uma grande dama. Vivi num palácio luxuoso, entre objetos caros, pisando em tapetes ricos. A minha vida foi brilhante, muito mais brilhante que a sua.
O Sapato Ferrado ficou silencioso por alguns segundos. Depois sorriu e disse tranqüilamente:
- No entanto, no entanto, viemos os dois acabar no mesmo monturo.